VSO needs you

-Quando é que este título deixa de ser ficção?-

Wednesday, December 28, 2005

Importante é mudar!

O ME propôs ontem que o próximo concurso de docentes seja válido por três anos.
A proposta inicial era de 4 anos. Número que agora se reduz para 3. Quando é que se decidem?
O desespero de “mostrar mudança” é enorme e parece levar o ME a tomar decisões tontas e injustificadas. Pelo que sei, a intenção desta medida é possibilitar que os docentes desenvolvam todo um trabalho contínuo, com os alunos, colegas e demais comunidade educativa envolvente. Na minha opinião, a validade do consurso deveria ser variável, de acordo com o nível de ensino e com a situação específica. P. Ex. Se um professor do 1º CEB é colocado no próximo ano lectivo (2006/2007) numa escola onde será titular de uma turma do 2º ano, deverá permanecer nessa escola durante 3 anos lectivos (2006 a 2009), de forma a “levar” os alunos para o ciclo de ensino seguinte, i.e., o 2º CEB.

Tuesday, December 27, 2005

O País real...

Ontem de manhã, precisei de ir à farmácia para comprar uns comprimidos que tomo e tomarei diariamente. A cidade, habitualmente fervilhando de gente, respirava silêncio, apesar das iluminações natalícias que piscavam o olho aos poucos transeuntes...
Apesar do reduzido movimento, na farmácia havia cerca de 6 pessoas : eu, dois homens de cerca de 50 anos, uma mãe com um filhote ao colo e duas senhoras já idosas, que se amparavam mutuamente.
Eu era a última daquele grupo. Preparei-me para esperar algum tempo, já que todos traziam na mão receitas médicas , o que não acontecia comigo.
Um dos homens, com aspecto abastado para o meio social em que nos encontrávamos, falava com o farmacêutico que o atendia, pois era visível que se conheciam . O Sr. José (como foi chamado) lá apresentou a sua receita enquanto se queixava de dois empregados que "não queriam fazer nada" e " imagine, ainda tiveram a lata de me pedir o subsídio de natal", em voz bem alta ,para que todos ouvíssemos e ia falando das casas que estava a construir à beira da praia bem como das razões que o tinham levado ao hospital. Percebi, pela conversa entre os dois, que o Sr. José era um construtor civil.
Finalmente, lá lhe entragaram os medicamentos receitados e pediram-lhe que assinasse a receita, norma estabelecida para confirmar a aquisição de medicamentos.
Qual não foi o meu espanto, quando o senhor baixou a voz e disse : "Desculpe lá, mas eu não sei assinar!" Lá veio a tinta para o senhor certificar com o dedo a sua assinatura!
Fiquei estupefacta! Este é o país que temos e estes são os patrões com que contam os nossos governantes para fazer desenvolver o país!
Com um país cheio de senhores josés, não há seguramente desenvolvimento assegurado!

Thursday, December 15, 2005

Ainda os crucifixos

Ainda os crucifixos nas escolas... um episódio

Em Junho deste ano, na sequência da programação de um curso extra-escolar sobre Associativismo e Desenvolvimento Local, estivemos numa aldeia, sede de Junta de Freguesia, a cerca de 50 km de Lisboa,  para uma pequena sessão, a que chamámos de Aula Aberta , sobre as vantagens do envolvimento dos habitantes locai no desenvolvimento da sua comunidade.
Ao longo do ano, os formandos do curso e nós, formadoras, realizámos 8 aulas abertas sobre temas relacionados com o desenvolvimento local em parceria com associações de cada localidade, procurando incentivar a dinamização das populações no seu próprio futuro.
Nesta aldeia, a que chamaremos de Arriba de Cima, para que não possa ser identificada, a Associação não possuía uma sede suficientemente espaçosa para o número esperado de assistentes, pelo que a sessão ocorreu na Escola Básica do lugar.
Cerca das 21:30, a sala da escola albergava cerca de 60 pessoas, homens e mulheres de todas idades, dos cerca de 20 aos 76, interessadas e participando animadamente na discussão sobre o tema, após uma breve introdução com o apoio de algumas imagens recolhidas em acções promovidas noutros locais.
A certa altura do debate, um dos assistentes de cerca de 50 anos pediu a palavra para expressar a sua opinião – resumidamente achava que a perspectiva de desenvolvimento era válida e devia efectivamente envolver mais a população, mas sentia-se chocado por ver aquela sala de aula exactamente como estava há trinta e tal anos, quando ele próprio frequentava a escola. Aquele crucifixo não devia estar ali, porque a escola era laica e era proibido.
Confesso que nem tinha reparado no aludido crucifixo, mas nem sequer tive tempo de responder. Gerou-se uma confusão de todo o tamanho, acusando-o de estar ali para gerar problemas e que era melhor calar-se. Os ânimos estavam aquecendo e não foi fácil, muito calmamente, chamar a atenção para o tema daquela sessão, não sem antes ter aproveitado para explicar o que significava escola “laica”, que o referido senhor tinha o direito de emitir a sua opinião, o que dizia a Constituição e que, efectivamente, qualquer pai podia reclamar da presença do crucifixo.
As pessoas presentes, após alguns murmúrios entre si e algumas questões colocadas às formadoras, lá concluíram que talvez o dito senhor tivesse razão, mas ali na aldeia eram eles que decidiam!
Voltámos ao tema do desenvolvimento local, organizámos um grupo que em parceria com a turma iria dinamizar uma sessão de poesia, solicitada por um grupo de pessoas mais idosas e fomos todos para uma festa que decorria ali perto, ao som dos cavaquinhos tocados por 3 habitantes.
Já na festa, em ambiente informal, retomei o assunto do crucifixo com alguns deles e perguntei: “E se a professora tirasse o crucifixo?” “Nós havíamos de o pôr lá outra vez.”
“ Se uma mãe ou pai falasse disso?”
“Aqui ninguém se atreve, e se se atrevesse, dizíamos ao senhor padre!”
O Presidente da Junta de Freguesia perguntou-nos directamente: “O que acham as senhoras?” Eu respondi sorridente: “eu tirava-o, claro, pois não é preciso ter ali um crucifixo para se ser católico!”
“ Não sei se eu podia fazer isso aqui”, retorquiu ele também a sorrir!
Eu também não sei o que aconteceu ao crucifixo lá na escola. Mas um dia destes, hei-de lá voltar para ver!

Saturday, November 26, 2005

A Escola é laica... quem duvida?

Finalmente, uma medida que só peca, por tardia: retirar os crucifixos das escolas . A Escola é laica e como tal não deve ter qualquer símbolo religioso, o que, aliás, já estava preconizado há muito, embora não fosse essa a prática nas escolas.
Não sei, contudo, se não irão fazer-se ouvir as vozes de muito boa gente protestar contra tal medida! Aguardemos.
Prometo num próximo post contar um episódio ocorrido numa aldeia de um concelho da Grande Lisboa , há menos de um ano, precisamente por causa de um crucifixo numa escola EB1.

Thursday, November 24, 2005

e limites, não há?

A Porto Editora lançou (já em 2004, mas o freeeduation4all só o descobriu agora) um dicionário, na colecção "Académicos", que inclui palavras tais como:
"foda-se", descrita como sendo uma interjeição que expressa desagrado, etc.
"foder"
"cona"
"caralho"
(...)

Estou-me a ver numa aula:
- Foda-se! Este trabalho está uma merda*... Vai lá melhorar isto, sff.

Ou numa reunião com os encarregados de educação:
- Olhe, você está a ser uma besta**.


Parece-me evidente que a nossa língua, por estar viva, está em permanente mutação. Sempre assim foi, sempre assim será, porque a língua é a nossa cultura e representa-nos, por isso precisa de mudar connosco. Mas os impropérios, o que é que têm a ver com este processo de mudança?
* expressão que mostra desagrado
** Pessoa arrogante

Tuesday, November 22, 2005

"Um discurso que não foi publicado"...

Recebi,por mail, este discurso proferido nas Nações Unidas com o pedido de auxílio de divulgação. Depois de o ler, considerei que valia mesmo a pena deixá-lo aqui.

Vale a pena ler este discurso do Ministro da Educação Brasileiro proferida nos EUA.
Discurso do Ministro Brasileiro de Educação nos EUA

Date: Mon, 21 Mar 2005 /19:53:01

Este discurso merece ser lido, afinal não é todos os dias que um Brasileiro dá um "baile" educadíssimo aos Americanos...

Durante um debate numa universidade nos Estados Unidos o Actual Ministro da Educação CRISTOVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma Insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros).

Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro.
Esta foi a resposta do Sr. Cristovam Buarque:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso.

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro...

O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não o seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser Internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um País.
Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais.
Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo humano. Não se pode deixar que esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer. Penso que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada como património da humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola.
Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o País onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia.
Quando os dirigentes tratarem as Crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa!
"

ESTE DISCURSO NÃO FOI PUBLICADO. Porque é muito importante... mais ainda, porque foi Censurado.

Tuesday, November 15, 2005

Aos dadores de aulas

"Chame-me Dr. Gatto, por favor. Há trinta anos, não tendo nada melhor para fazer, experimentei ser professor. O diploma que tenho certifica que sou professor de Língua Inglesa e de Literatura Inglesa, mas não é isso que eu verdadeiramente faço. Não ensino Inglês; eu ensino o currículo escolar - e, por isso, ganho prémios."

Discurso proferido por John Taylor Gatto aquando da nomeação como "New York State Teacher of the Year" de 1991

Wednesday, November 02, 2005

educação sexual? claro que sim

mas contextualizada!

Tão óbvio que é, mas foi preciso que uma comissão, coordenada pelo Daniel Sampaio, o dissesse. Que o oiçam, pelo menos!

"A educação sexual deve deixar de ser fragmentada e deve ser integrada na educação para a saúde" Daniel Sampaio
Na educação para a saúde, na educação cívica, diria eu.

Tuesday, September 27, 2005

A "mentira" do Inglês no 1º ciclo

Cansada de ouvir apregoar a introdução do Inglês no 1º ciclo, como uma grande inovação deste ministério, sinto-me na obrigação de esclarecer o seguinte:
1. O inglês não é obrigatório nos currículos dos 3º e 4º ano .
2. A responsabilidade de execução desta medida pertence às Câmaras Municipais, que contratam os professores "que entenderem"- concursos municipais (?)
3. O tempo de serviço não conta em nada para progressão na carreira docente e/ou antiguidade.
4. Só nas escolas EBI o inglês é da responsabilidade da escola e leccionada por professores do 2º ciclo (3º grupo)
5. O Inglês é leccionado depois do horário normal da escola e obrigatoriamente funciona como actividade "de prolongamento", que também não é de frequência obrigatória para os alunos.

P.S. Numa Escola EBI , a professora de Inglês no 3º ano tem 8 alunos , e no 4º ano só 9 aparecem de vez em quando. Já teve aulas em que não apareceu nenhum aluno...

Tuesday, September 20, 2005

O Fórum Social Ibérico para a Educação vai realizar-se em Córdoba entre os dias 29 de Outubro e 1 de Novembro.

"Partimos da ideia de que a educação é um direito universal e um bem público, ao qual todas as cidadãs e cidadãos têm o direito a aceder em condições de igualdade, e as Administrações têm o dever de garantir.
Queremos uma educação emancipadora, que favoreça a relação igualitária entre mulheres e homens, entre os diversos povos e culturas, e que seja respeitadora das línguas e culturas das diferentes nações.
Queremos uma educação que garanta a igualdade de oportunidades, que compense as desigualdades sociais e que possa actuar como antídoto frente ao racismo, ao sexismo e à exclusão social.
Defendemos o direito que têm todos os povos e nações (também as do âmbito geográfico a que se circunscreve este fórum) a construir o seu sistema educativo, a criar o seu próprio currículo e a veicular o ensino na própria língua.
Queremos que este Fórum seja o espaço para formular propostas e juntar forças para continuar a lutar por uma educação pública, laica e de qualidade para todos e todas."

Informação complementar aqui

Sunday, September 18, 2005

Amanhã, vão começar as aulas lá na Escola. Depois dos Conselhos de Turma, de que falarei nas próximas "Impressões do Quotidiano", um excerto de Saramago, lido há algum tempo e guardado numa pasta do computador, não me saía da cabeça. Tenho de o partilhar ...

"Aquela ideia que temos da esperança nas crianças, nos meninos e nas meninas pequenas, a ideia de que são seres aparentemente maravilhosos, de olhares puros, relativamente a essa ideia eu digo: pois sim, é tudo muito bonito, são de facto muito simpáticos, são adoráveis, mas deixemos que cresçam para sabermos quem realmente são. E quando crescem, sabemos que infelizmente muitas dessas inocentes crianças vão modificar-se. E por culpa de quê? É a sociedade a única responsável? Há questões de ordem hereditária? O que é que se passa dentro da cabeça das pessoas para serem uma coisa e passarem a ser outra? Uma sociedade que instituiu, como valores a perseguir, esses que nós sabemos, o lucro, o êxito, o triunfo sobre o outro e todas estas coisas, essa sociedade coloca as pessoas numa situação em que acabam por pensar (se é que o dizem e não se limitam a agir) que todos os meios são bons para se alcançar aquilo que se quer. Falámos muito ao longo destes últimos anos (e felizmente continuamos a falar) dos direitos humanos; simplesmente deixámos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. Isso, de facto, não posso entender, é uma das minhas grandes angústias."

in 'Diálogos com José Saramago

Também é minha, Amigo, com que intensidade !

Cada povo tem o país que merece

O país que merece, os políticos que merece, os funcionários públicos que merece, etc.
Enquanto esperava que alguém gritasse o meu número mágico do dia numa direcção regional de educação, ouvia vozes de gente indignada com a infindável espera. Um misto de vozes que reclamavam entre dentes de forma a serem ouvidos apenas pelas pessoas que heróica e solidariamente as acompanhavam (sendo, apesar do cuidado, ouvidas também pelas cerca de 20 pessoas que se encontravam nos 2m2 circundantes) e vozes esganiçadas (não haverá AKG que as salve ou disfarce pelo menos?) que dirigiam impropérios aos seguranças.
Depois de alguns anos a participar neste circo que se diz moderno mas ainda usa animais em vias de extinção e cansada de ouvir tanto barulho ineficiente, resolvi levantar-me, e comigo levantou-se-me a voz. O galinheiro acalmou e a galinhagem olhou-me, quais espectadores, admirando um espectáculo em palco. Perguntei se alguém tinha feito uma reclamação por escrito, ao que todos responderam que não. Imaginando que toda aquela gente precisava de um incentivo, aproveitei para dizer que iria proceder ao registo da minha reclamação no local próprio e não ali pois os agentes de segurança não eram responsáveis pelo funcionamento das DREs. Pedi a um segurança que me indicasse o livro de reclamações e dirigi-me para lá. Os meus ouvidos afinaram sensibilidade a fim de contar o número de pés que me seguiam...
NEM UM
NENHUM
Perante isto, só posso dizer: bem feito! E por mim, deviam ter de dormir à porta!

Friday, September 16, 2005

os mistérios dos concursos de docentes

no país das maravilhas

Há uma docente vinculada a uma zona pedagógica. Quando são publicadas as listas definitivas, esta docente verifica que não está colocada. Entretanto, tenta oferecer-se para trabalhar no ensino de inglês no 1º ciclo, área em que há um número muito pequeno (10?) de docentes com formação adequada: no campo da competência na língua estrangeira e no campo da formação pedagógica naquele nível de ensino). Como todo o processo de colocação de docentes está centralizado, não há resposta a casos concretos.
Algumas questões:
1. Quem vai lecionar inglês no 1º ciclo?
2. Como diz o António Vitorino, daqui a 10 anos iremos ver os resultados da introdução do inglês no 1º ciclo. Eu digo o mesmo, mas não o digo com um sorriso no rosto por uma razão: vamos criar uma geração de pessoas que odeiam a ideia de aprender línguas estrangeiras. Para não correr o risco de ser acusada de não apresentar soluções, passo a registar algumas possibilidades:
a) Deveria criar-se uma base de dados dos professores que leccionam inglês a crianças destas idades há décadas em Portugal. Estes professores deveriam ser convidados a continuar o seu trabalho nas escolas públicas. Deveriam, ao mesmo tempo, fazer/dar formação cooperada aos colegas interessados. EM um ano lectivo apenas teríamos um número bem interessante de professores capazes de fazer este delicado e importante trabalho de sensibilização para e de introdução a uma língua estrangeira.
b) Como o sono me está a turvar as ideias, fico pela soulção anterior, a mais rápida, porque há outras soluções, mas compreendo que o governo, narowminded como é (independentemente da cor política - o verbo está no presente porque no presente e passado recente temos tido governos i.ncapazes de pensar a longo prazo, incapazes de aceitar e aproveitar ideias de governos anteriores)
ooops! distraí-me um bocado e perdi o fio à meada!
O mistério:
A docente, ao perceber que não obterá resposta personalizada, aguarda os resultados. Quando saem descobre que não está na lista de colocados... nem na lista de não colocados...
Descobre que deixou de existir. Caso para dizer: belisquem-me que não sei se estou acordada!

concurso do país das maravilhas

(caso verídico)
O António é dador de aulas.
O António foi de Chaves para Loulé vender aulas.
O António tem uma esposa e um bebé de 8 meses.
O António foi de Chaves para Loulé dar aulas.
Quando soube que tinha ficado colocado tão longe, o António ficou muito triste por ter de ir viver para longe da sua companheira e do respectivo rebento.
Mesmo assim, resolveu rumar a sul.
Ora porqueêêêêêêêê? perguntamos nós.
Ora, porque o António efectivou naquela escola. Por outras palavras, o António pode trabalhar naquela escola para sempre e nunca ninguém o mandará embora, porque o lugar é dele.

Ninguém que tenha um palmo de testa compreende que existam tantos Antónios a ir de Chaves para Loulé ao mesmo tempo que o mesmo número de Antónios vão de Loulé para Chaves. Ninguém, porque se fazem falta nos dois sítios, por que é que não se podem aproximar de casa os professores?
Por outro lado, ninguém mexe uma palha (onde estão os sindicatos?) para mudar o status quo. E porquê?
Porque se instituiu que "oh coitadinho, é professor e veio de lá tão longe e é pai de uma bebé linda e tem lá a esposa que acaba de ser operada e tem lá o pai que está acamado e depende dele e e e e", por isso "é natural que meta atestado no carnaval, porque assim pode ir passar uma semana à terra"
e deixa andar, que é este o país que nós estamos a construir!

(atenção, este caso é verdadeiramente verídico)





(atenção, este caso é um caso verídico)

Acabam de sair os resultados da 1ª colocação cíclica!

Respostas possíveis:
a) upa upa
b) dasse! mas eles não diziam que esta m=%#!" começava amanhã?
c) ah bom, sempre conseguiram colocar os professores antes de começarem as aulas. Tendo em conta que ainda são 10 horas da noite e que o país é pequeno, os tipos ainda têm tempo de fazer as malas, de se porem a caminho das respectivas escolas e de lá chegarem antes da secretaria fechar.
d) Este ano o concurso está a correr bem: previram o início do ano lectivo para a semana de 12 a 16 de Setembro e vão conseguir. upa upa.

deus queira/assim seja/oxalá/amen

Hoje é dia 12 de Setembro, dia que o ME declarou como da abertura oficial do ano lectivo. Apesar disso, apenas algumas escolas iniciaram hoje as actividades lectivas. As restantes hão-de abrir se e quando Deus quiser, o que num país onde quase 100% da população se afirma católica, pode parecer bom.
Uma amiga minha, enquanto professora vinculada a uma zona pedagógica, afecta administrativamente, resolveu dirigir-se à escola e oferecer-se para ocupar uma das vagas que tinham surgido (atestados, etc.). A escola gostou da ideia, até porque desse modo as aulas poderiam começar na data anunciada pelo ME. Depois de perder uma hora e meia ao telefone, entre esperar que atendessem a chamada e esperar que a passassem à secção de concursos, a coordenadora do 1º CEB ouviu o seguinte: “Lamentamos, mas não podemos responder a nada neste momento, porque estamos em reunião. Os resultados das colocações sairão na próxima 5ª feira.”
Alguém se importa de explicar a estes senhores o significado e o preço do desperdício de recursos humanos?

Wednesday, September 14, 2005

Impressões do Quotidiano 3 - Área Projecto

Hoje foi a reunião dos docentes que vão ter a seu cargo a "Área Projecto".
Previa uma reunião interessante, dada a importância que os Projectos devem ter numa Escola e à possiblidade de dinamização e conjugação de esforços que permite...
Sei como , nestes espaços, é possível motivar e mais concretamente transformar motivações extrínsecas dos alunos em motivações intrínsecas, com resultados visíveis no sucesso escolar....
Pura ilusão! A reunião demorou 30 minutos. Foi dada uma lista de sugestões de temas e subtemas e encerrada a reunião...
Ainda tentei levantar algumas questões : então, os alunos não têm uma palavra a dizer? Afinal, quem é que decide : os professores? E os alunos? E a metodologia do trabalho de Projecto ?
Calaram-me rapidamente. " Pois, Colega, falamos disso noutra altura, que hoje a reunião já acabou. Mas, a colega pode fazer como entender. Isto são só sugestões." A reunião tinha acabado mesmo.
Inconformados, lá ficámos na sala eu e mais dois professores durante mais de uma hora discutindo o que podíamos fazer.
O coordenador da Área Projecto foi muito elogiado "por fazer reuniões tão rápidas. Assim é que deviam ser todas."
Ainda não foi hoje que me senti integrada.

Monday, September 12, 2005

Impressões do Quotidiano 2 -Horários

Distribuição de Horários
Nunca vi tal coisa. E já são 33 anos de escola. Entregues em mão, alguns no bar, feitos para cada pessoa e à medida dos amigos.
Não, não estejam a imaginar coisas, a antiguidade não constituiu nenhum posto, diria mesmo que se tornou uma grande desvantagem... vejam um exemplo: uma aula de 45 minutos em dois dias seguidos (2ª e 3ª) e os restantes com aulas de manhã e de tarde (4ª,5ª e 6ª) Se a minha componente lectiva é de 14 horas, dá para entender a manta de buracos que me ofereceram... Altamente motivador... Dias livres só para alguns, pelo menos , os professores da comissão de horários têm... e alguns amigos dos amigos também.
Como já fomos avisados que os espaços disponíveis para preencher as horas de redução são mínimos e só não são nulos, porque existe sempre o recurso à sala de professores , acho que vou passar a fazer o que sempre defendi: trabalho só na escola, no meu portátilzinho, pois claro, porque não dispenso um café, um cigarrito enquanto vou preparando as aulas...
Claro que há um pequeno(!!?) problema : não adivinho lá grandes planificações, pois trabalhar numa sala onde outros tantos discutem as telenovelas, as últimas habilidades dos filhos, das empregadas, do jet set da moda e do futebol, não é exactamente o meu ambiente de trabalho preferido... mas não posso passar ali o tempo a “mexericar”, não acham?
Está a começar bem o ano, sem dúvida...
Entretanto, um colega , que eu conheço há muitos anos, de outros continentes, veio muito satisfeito avisar-me que eu era professora da filha dele... Engraçado, parece que há uma turma com vários filhos de professores. Não resisti a uma boca, confesso... perante o ar satisfeito com que me comunicou a notícia, respondi : “eh, que azar! Achas que não a consegues mudar de turma? É que eu, este ano, vou ter de faltar muito... “ Haviam de ver o misto de desilusão , desencanto e surpresa com que me olhou. Eu continuei muito calma...
Esta maldadezinha foi a minha pequena vingança do dia...

Impressões do Quotidiano 1 (Continuação)

O facto de um professor leccionar duas disciplinas não constituiu problema para o facto de as reuniões estarem marcadas para a mesma hora. Ia-se a uma e depois falava-se com o delegado da outra disciplina para saber o que tinham decidido.

Nada mais fácil e pragmático... ( era o que faltava , os professores que leccionam duas disciplinas quererem estar presentes nas duas reuniões...)
A esta altura da manhã, interroguei-me a mim própria: mas o que ando eu a fazer aqui?

Procurei a salita onde se pode fumar um cigarrito , tomar um café de máquina que eu paguei e sozinha com os meus botões pensei: ou arranjo uma metodologia de sobrevivência ou fico completamente “afectada” por este meio ... Aqui está o início da metodologia adoptada: impressões do quotidiano 1.

Impressões do Quotidiano 1

Tomei uma decisão hoje de manhã: Vou alimentar este blog com as impressões que a escola me proporcionar, sem filtros de politicamente correcto nem de receio de chocar seja quem for. Serão impressões sentidas à medida que forem surgindo diariamente ou não... Poderia até ser um novo blog, mas considero que tem lugar neste uma espécie de “Secção” de Impressões do quotidiano. Daí, o título deste posts.

Primeira Reunião Geral de Professores do ano:
Marcada para as 10:30, iniciou-se às 10:50. A confusõa era grande: cerca de 180 professores juntos faziam mais barulho que 3 turmas de 30 alunos aguardando os professores. O Conselho Executivo bem procurava fazer-se ouvir mas em vão, até que alguém deu uma assobiadela tipo de cinema de bairro acompanhadas de dois murros numa mesa (ah! A reunião era no refeitório, único local onde cabem tantos professores...) e o pessoal acalmou....
As primeiras palavras não foram de boas vindas, pois o facto de haver poucos professores novos ( cerca de 10...) não justificava que se falasse do funcionamento na escola , pois era conhecido de todos... ( por acaso até nem era, já que houve alteração de conselho executivo e obviamente p modo de funcionar e de tomada de decisões mudou...)
Foi desejado bom dia a todos e explicadas as alterações de legislação que implicavam novos procedimentos e “retiravam direitos já adquiridos” (sic...)
1.Atenção – as faltas dadas para acompanhamento de familiares doentes com idade superior a 10 anos serão descontadas no ordenado, vencimento, tempo de serviço, isto é, serão objectos do mesmo tratamento que as faltas “por greve...” ( bem, se tiver de acompanhar o seu filho com 11 anos ao médico e a criança precisar de ficar em casa uns dias, já sabe, o melhor é meter atestado médico...)
2.As reduções de tempo lectivo por antiguidade têm de ser indicadas em horário e passadas na escola: actividades sugeridas - aulas de substituição, leitura orientada, etc., etc.,,, os professores são muito criativos... Os professores com estas reduções devem em conjunto com o C.E. marcar essas horas... ( aulas de substituição não são actividades lectivas? Se ao alunos estão em aulas, porque lá na escola os alunos têm horários muito arrumadinhos e todos têm 2 tardes livres, os professores fazem actividades com quem? Nem que seja tomar conta deles, foi uma das dicas do Sr. Secretário de Estado...)
3.O alargamento de horário até às 17:30 para o 1º ciclo não é obrigatório. Sã actividades extracurriculares e os pais podem não querer... ( depois de tantos anos a estudar desenvolvimento curricular, confesso que estou confusa - afinal currículo não é constituído por tudo quanto os alunos aprendem na escola...? daí a existência de vários tipos de currículo, etc.. o melhor é rever o que dizem os teóricos do desenvolvimento curricular, que anda aqui algo que se me escapa...e . de caminho, pedir desculpa aos alunos que tive nos últimos anos, a quem exigi diversos trabalhos e investigação sobre currículo escolar...é evidente que para o ministério currículo é programa.)
A reunião acabou. Café, hoje a escola ofereceu, depois reuniões de disciplina

Wednesday, September 07, 2005

As decepções do dia ...

1.Hoje, a caminho da escola, ouvi na rádio a notícia do dia: Portugal tinha descido um lugar no ranking dos países do mundo relativamente ao Desenvolvimento Humano. A Eslovénia ultrapassou Portugal. Já tenho o relatório para ler mais atentamente...
2. Na escola, o conselho executivo andava ás voltas com um problema de estruturas física- falta de espaços e acumulação de docentes às mesmas horas ... Como organizar actividades sem espaços para tal? e considerando os poucos espaços e alunos existentes como distribuir as actividades pelo número de professores que iam permanecer na escola cumprindo as orientações do Ministério da Educação? será que chegaram a alguma conclusão? para quando uma verdadeira organização e administração das escolas? Lembrei-me de uma escola inglesa, mais concretamente em Hull, onde tive oportunidade de fazer uma formação há uns anos...
3. Sendo necessário resolver uma questão urgente, (relativa á feitura de horários e interpretação de um ofício recebido) a presidente do C.E. tentou telefonar para a DRE(?): Após 25 minutos de espera (eu teria desligado...), alguém atendeu a chamada. Logo que ela se identificou, informaram que todos os assuntos teriam de ser enviados por fax e, sme que lhe dessem tempo para mais, desligaram o telefone. O problema a resolver era urgente e pode implicar a saída de um professor...
4. Numa livraria bem perto da escola uma mãe adquiria os manuais e outro material escolar para o filho que irá frequentar o 6º ano nessa escola. O diálogo entre eles era nulo; quanto aos livros, não houve qualquer discussão, mas quando as escolhas recaíam em cadernos, mochilas e outros apetrechos, o filho simplesmente ignorou os apelos da mãe para produtos mais baratos, exigiu e comprou tudo quanto lhe apeteceu. A mãe pagou e, apercebendo-se de que eu tinha estado a observar a situação, comentou: "Sabe, ele até nem é muito mal educado, mas quer ter as mesmas coisas que os colegas da turma. Está, é tudo, muito caro...."
"A educação de um povo pode ser julgada, antes de mais nada, pelo comportamento que ele mostra na rua. Onde encontrares falta de educação nas ruas, encontrarás o mesmo nas casas"

"Fonte: "Cuore" Autor: Amicis , Edmondo

Monday, August 29, 2005

A confusão começou...e a lógica do Ministério da educação...onde está?

As listas de colocação dos professores saíu hoje...O Ministério vai propalar que saíu antes do previsto, o que quererá transmitir à opinião pública "a eficiência " da actual equipa ministerial...
Entretanto os sindicatos já disseram que apenas cerca de 10 mil professores contratados obtiveram vaga.
A guerra dos números começa e os "lapsos" do ministério são mais que muitos.
Um exemplo concreto: uma professora do 1º ciclo foi colocada em quadro de zona; logo tem lugar assegurado - lógico, não? Concorre a todos os lugares do quadro de zona, logo vai entrar numa escola,- lógico, não?
Saem as listas de colocações e esta professora, mais umas centenas (cerca de 30 páginas, se não me engano) não estão afectadas a nenhuma escola da Zona em que foram colocadas.
Algumas questões:
O ministério não contabilizou as vagas que tinha em cada zona?
E agora, vai logicamente ter de pagar o ordenado a professores que pertencem a uma quadro de zona, mas não foram afectados a nenhuma escola.
A procissão ainda vai no adro. Este caso é apenas um dos inúmeros que por aí haverá...
Aguardemos os próximos capítulos. E as autárquicas que vêm aí, senhores!

Sunday, August 28, 2005

2005- 2006 ...O Folclore vai continuar...

Apesar do silêncio mais ou menos generalizado sobre o próximo ano lectivo, ele está aí.
Professores colocados dia 30; Escolas com alguma (ou será muita?) confusão sobre as novas instruções para feitura de horários.

Pessoalmente não me surpreende nada! Vamos assistir ao folclore do costume: os media apresentando números e situações caricatas ( ou não vivêssemos num país de caricatura!); o ministério procedendo a aberturas solenes do ano lectivo nalgums escolas previamente seleccionadas com a presença ministerial em massa e transmitida nos noticiários e as escolas, contextos reais e organizacionais, assistindo á banda passar e tentando resolver os inúmeros problemas para os quais o ministério não dá solução...

Ah, e também vamos ter os Sindicatos e as Associações de Pais a emitir as suas opiniões.
Vamos ter números para todos os gostos...

O Folclore vai continuar, mas a qualidade vai permanecer a mesma.

Friday, August 19, 2005

Paz, pão, saúde, educação

Foi este o cenário encontrado pelos alunos de uma escola em Yala, Tailândia, no dia 16 deste mês, quando tentavam regressar às aulas. Cerca de 4,400 crianças perderam já as respectivas escolas, manuais escolares e outros materiais, devido a fogo posto. A escola que aparece na fotografia é uma das 56 que foram danificadas ou destruídas por ataques concretizados nas cinco cidades da zona meridional da Tailândia, desde o regresso da violência de forças independentistas, no início de 2004.
Posted by Picasa

Consequências?
Segundo o jornal A Página da Educação, o vice-ministro da educação, Rung Kaewdaeng, anunciou que cerca de dois mil professores colocados no sul da Tailândia, vão ser autorizados a transportar armas de fogo ou irão ser deslocados para outras regiões do país.

Friday, July 29, 2005

good news

este blog voltará à vida na próxima semana.
fica ameaça:)

Saturday, July 16, 2005

congresso

O 27º Congresso do Movimento Escola Moderna vai realizar-se de 20 a 23 de Julho, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa (cidade universitária).
Mais informações aqui, porque o Movimento Escola Moderna ainda não tem sítio na rede, mas irá em breve ter um.
Mais informações sobre o MEM, neste artigo, deste excelente jornal.

Mãos, que ajudam a abrir as portas das nossas escolas.
Cabeças que pensam a educação
Profissionais conscientes do seu papel
Pessoas que acreditam nas pessoas
Um incentivo à mudança
Um grito pela melhoria!

inscrições e informações complementares aqui

Thursday, July 14, 2005

Imagens de escola

Um excerto de uma tese de mestrado defendida Há cerca de 11 anos...
"Em relação ao conceito escola, assumido aqui como organização social e sendo um conceito chave no processo de formação contínua de professores, trata-se para além de um conceito, de um contexto educativo e social nem sempre fácil de compreender e de explicitar.
Antes porém de se proceder à análise do conceito escola, enquanto construído social, com funcionamento complexo e multidimensional, afigura-se relevante apresentar, ainda que socorrendo-nos de uma linguagem metafórica, utilizada por Garcia (1994) as diferentes imagens com que a escola foi, é e ainda vai sendo comparada actualmente. As “imagens” mais frequentemente associadas ao conceito de escola são:
- como uma FÁBRICA, onde a produção de conhecimentos em massa, o controlo de qualidade da aprendizagem, a descrição pormenorizada das tarefas a seguir, imperam numa lógica de racionalização, assumindo a escola um papel de socialização e homogeneização social;
- como um HOSPITAL, onde os professores devem prestar uma atenção especial ao indivíduo e suas necessidades específicas, caracterizando-se por uma separação clara entre as decisões relativas à gestão da instituição e às decisões claramente profissionais da responsabilidade do conhecimento dos professores;
- como uma FAMÍLIA, onde se salienta a comunicação educativa, com papéis claros e definidos dos diferentes intervenientes — professores, pais, alunos, directores, pessoal auxiliar — destacando-se a componente afectiva e relacional;
- como uma ZONA DE BATALHA, na medida em que os conflitos entre os diversos actores abundam, às vezes a nível organizativo, outras vezes a níveis pessoais e de grupo, o que torna, por vezes, as escolas em verdadeiros “campos de batalha” pelo poder;
- como um TEATRO, porque permite interpretar o que acontece numa escola como representações dos diferentes papéis que os actores desempenham, sem que abdiquem da sua própria identidade pessoal.
Uma leitura ainda que linear destas “imagens” mais comuns relativas à escola deixa claro a complexidade de funcionamento da instituição escolar, sujeita a uma forte pressão social, à exigência de objectivos múltiplos complexos e por vezes, mesmo contraditórios. A escola, enquanto instituição contribui para reproduzir, recriar e promover relações sociais tanto pelo que ensina explicitamente (currículo explícito), como pelo tipo de relações e aprendizagens implícitas que permite (currículo oculto), podendo-se ainda assimilar a esta escola a função de instrumento de compensação de desigualdades sociais, devendo para tal ser capaz de oferecer oportunidades de formação a todos os cidadãos independentemente ou em função das possibilidades económicas das famílias."


As perguntas de então mantêm a sua validade hoje:
É esta a escola que temos?
Quais as funções do professor numa organização tão complexa?
Qual a imagem de escola que prevalece no nosso sistema educativo?

As escolas, os professores e as novas medidas...

Novas medidas para a educação ou melhor para o funcionamento das escolas foram anunciadas pelo ministério da educação...
Mais tempo na escola... sempre defendi que os professores deviam preparar todo o trabalho nas escolas, mas a realidade é esta: nunca encontrei escolas com locais de trabalho adequados para professores.
As salas de professores não são gabinetes de trabalho...
O número de salas não permite que os horários dos alunos sejam mais adequados...
Nenhum professor pode proporcionar ensino individualizado quando num dia normal, de 50 em 50 minutos, muda de sala e de turma , com cerca de 28 alunos. Num dia normal de aulas, o professor interage com cerca 90 alunos ( se tiver 3 turmas num dia...). Quem é que consegue dar a devida atenção a tantos alunos, cada um diferente do outro?
Recuso a massificação do ensino, mas a qualidade da escola passa por muitas condições de trabalho que não existem....
Receio bem que tais medidas só contribuam para incrementar nos professores uma postura mais adequada ao "funcionário público", burocratizado, do que ao "Professor-Formador" que um ensino de qualidade exige...

Wednesday, July 06, 2005

Educação / Formação de Adultos ... Uma realidade ignorada...

Um País define-se pela formação da sua população activa.
Que medidas estão preconizadas para a Formação de Adultos?

Cada pessoa constrói-se a partir da sua experiência, dos seus interesses, da sua vontade e/ou necessidade de saber.
Nenhum de nós, criança ou adulto é uma espécie de saco ( a nossa cabeça), onde alguém muito erudito ( na cabeça de muitos, o professor), deposita os conhecimentos que alguém (Ministério) determinou necessários.
A aprendizagem implica vontade, interesse e esforço.
Não há aprendizagem sem trabalho próprio e ninguém aprende se não vir vantagens e/ou utilidade nessa aprendizagem.
Educar não significa apenas instruir, obter diplomas ou certificados, por muito necessários que eles sejam numa época em que os valores, os saberes, os interesses sofreram grandes alterações...
Educar implica desenvolvimento da pessoa, crescimento, vontade de aprender, vontade de compreender o que se passa à sua volta, de acompanhar o ritmo da vida, enfim vontade de não ficar para trás.
Educar / Formar implica antes de tudo um Projecto de Vida individual e/ou colectivo.
Não há Formação sem Projecto.

conhece alguém que tenha escolhido ser professor pelo "estágio remunerado"? - II

Confesso que encontrei dezenas de alunos que optaram por este curso por "exigir médias mais baixas"( o que , na minha opinião é extremamente grave para um sistema de ensino de qualidade)

o governo afirmou que vai impedir o acesso de alunos que não tenham tido a disciplina de matemática no ensino secundário e àqueles que tenham nota negativa. menos mal.

A grande questão que continua a pôr-se é: o que é ser professor? Será que ser professor é uma profissão no sentido que é dado sociologicamente a este termo?Esta é uma questão que gostaria de ver debatida.

o que se espera de um professor na actualidade?

Quanto ás medidas anunciadas são apenas medidas "económicas", mascaradas de "melhor rendimento", "melhor ensino", "mais qualidade", etc., etc,...Poupem-me á hipocrisia...

o problema é que demasiadas vezes os ministérios da educação tomam medidas radicais para que as pessoas sintam que “eles” se estão a mexer, porque os pais se queixam, porque os resultados escolares do nosso país são o que são, porque se gasta já tanto em educação e não se vêem melhorias significativas... Lembro-me, por exemplo, da anterior ministra da educação ter afirmado que iria acabar com a área de projecto, porque considerava que esta área* estava a “roubar tempo” ao ensino de matemática e da língua materna.


* considerada, infeliz mas compreensivelmente, como uma área curricular não disciplinar, porque não se conseguiu generalizar o verdadeiro recurso ao trabalho de projecto. Na realidade, esta área não deveria existir, todo o trabalho desenvolvido nas escolas poderia desenvolver-se a partir de projectos.

politicamente incorrecto

quando é que as instituições de ensino superior começam a convidar alunos a mudar de curso?
ser professor é para quem pode e não para quem quer!

Sunday, July 03, 2005

Conhece alguém que tenha escolhido ser professor pelo "estágio remunerado"?

Ouvir a Sra. Ministra da Educação dizer que muitos jovens escolhiam o curso de formação de professores porque tinham o "estágio" remunerado deixou-me surpreendida e pasma... Possivelmente ouvi mal, já que estava lendo uns relatórios e ouvindo o debate , mas que essa afirmação foi feita, não duvido..
O pasmo adveio-me de nunca ter encontrado tal razão nos centenas de alunos com quem trabalhei/ajudei na formação nem nos colegas de escola(s)
Confesso que encontrei dezenas de alunos que optaram por este curso por "exigir médias mais baixas"( o que , na minha opinião é extremamente grave para um sistema de ensino de qualidade); encontrei alunos que entraram nestes cursos como poderiam ter entrado noutro qualquer ( a sua única pretensão era poderem ter uma licenciatura e a de ensino estava mais á mão, o que continua a ser muito grave quando se pretende um ensino público de qualidade); encontrei alguns, muito poucos que escolheram o curso porque queriam ser PROFESSORES.
Nas Escolas, encontrei engenheiros, advogados, economistas, arquitectos, etc.etc. que procuraram no ensino o "emprego" que não conseguiram no seu ramo. Professores, por opção consciente, não tenho encontrado muitos. Mas, destes últimos, a maior parte já está profissionalizado, instalado no sistema e pessoalmente não acredito que venham a mudar o seu modo de estra na profissão com as novas medidas. Pelo contrário, penso que as vão utilizar para justificar ainda melhor o não empenho na educação.
A grande questão que continua a pôr-se é: o que é ser professor? Será que ser professor é uma profissão no sentido que é dado sociologicamente a este termo?
Esta é uma questão que gostaria de ver debatida.
Quanto ás medidas anunciadas são apenas medidas "económicas", mascaradas de "melhor rendimento", "melhor ensino", "mais qualidade", etc., etc,...
Poupem-me á hipocrisia...

Friday, June 24, 2005

Serviços mínimos de cidadania

A ideia dos "serviços mínimos" é bem portuguesa. Vidas preenchidas de queixumes vazios e levianos. Quantas vezes se ouve por aí dizer que "a galinha da vizinha é melhor que a minha", sem que haja um esforço por melhorar a sua capoeira...
É sempre mais fácil culpar os outros, as instituições, os anónimos, em vez de agirmos no nosso espaço, no nosso meio. Queremos que "alguém" faça alguma coisa e reclamamos que "ninguém faz nada por mudar esta situação", mas são poucas as vezes que adoptamos uma postura interventiva, de cidadãos informados, críticos, interessados, vivos!
Hoje no Público, Paulo Trigo Pereira expressa a sua opinião sobre esta estranha greve que se tem vivido nos últimos dias e apela ao exercício da cidadania.

"Não convém subestimar a assimetria existente entre, por um lado, a pouca influência dos largos grupos latentes, sem expressão organizada, de alunos, professores que não se sentem devidamente representados, pais que não se expressam em associações e, por outro, os grupos fortemente organizados dos sindicatos, com financiamento próprio, isenção de docência, páginas na Web, apoio jurídico, pareceres, etc.
Só há duas formas de defender aqueles grupos latentes. O exercício individual e generalizado da cidadania..."

Mais adiante*, ainda no mesmo jornal (que já não se pode ler online gratuitamente), acabo por encontrar o Miguel Sousa Tavares:
"Haverá ainda, na consciência da maioria dos portugueses, a noção de que um país se constrói com o esforço, a iniciativa, o trabalho, e se necessário, o sacrifício de todos, na medida das respectivas responsabilidades? De que um país não pode depender apenas ou principalmente do Estado, do Governo, das iniciativas e dos dinheiros públicos? Que a cidadania não é só direitos adquiridos e benesses garantidas eternamente, sem relação com a produtividade, o crescimento, a competitividade, a qualidade daquilo que se faz e se produz?"

uma pessoas às vezes desespera...
*Sim, porque gosto de ler o jornal do fim para o princípio, ou do meio para o fim e daí para o princípio, ou até mesmo do princípio ao fim. Depende.

Tuesday, June 21, 2005

Professores e Serviços Mínimos....

Achei extremamente curioso o modo como foram definidos os "serviços mínimos" em educação...
E eu, que , ao longo destes anos, tenho encontrado tanta gente que se diz professor a mais não fazer que "serviços mínimos", não consigo entender a necessidade de consultar juristas para tal definição...
E, que pretende o Governo com as novas medidas relativas á reforma? Claro que os "serviços mínimos" vão proliferar por essas escolas e jardins de infância...!
Levar um manual para a aula, abrir na página x, fazer os exercícios e deixar que os próprios alunos os corrijam entre si , não necessita de grande planificação, direi mesmo de nenhuma... Esta atitude insere-se ou não nos "serviços mínimos"?

Monday, June 13, 2005

Running

and linking.

In haste!

Wednesday, June 08, 2005

inglês no 1º ciclo?

"O ensino de inglês no 1.º ciclo, uma das principais bandeiras eleitorais de José Sócrates, será facultativo.” A decisão dependerá das autarquias e dos pais. Segundo Nuno Guedes, nA Capital de hoje, “O regulamento para a generalização do inglês no 1.º ciclo propõe que este seja introduzido de uma forma «progressiva», «facultativa» e «gratuita», «envolvendo» as escolas e as autarquias que, segundo o projecto da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, se poderão candidatar a um apoio financeiro do Estado central em parceria com as escolas.”
Apesar de o governo não se ter manifestado a respeito deste assunto, A Capital afirma saber que “o objectivo do Governo é assinar ainda este mês o protocolo com a Associação Nacional de Municípios Portugueses para a introdução do inglês nas escolas, publicando amanhã o despacho com a criação do programa de generalização do seu ensino no 1.º ciclo. As candidaturas dos municípios começariam a ser apresentadas a partir de 10 de Junho e as aulas começariam a 3 de Outubro.”
Costuma dizer-se que o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Espero que o provérbio não caiba aqui. A verdade é que estas novidades me suscitam algumas dúvidas e preocupações. Nomeadamente:

1. Como é que se pode começar a leccionar uma disciplina que não será avaliada? (O Portfolio Europeu das Línguas existe e pode ser uma excelente base)
2. Quem irá leccionar esta disciplina? Um professor especialista sem formação ou experiência em pedadogia/metodologias de ensino-aprendizagem no 1º ceb? Um professor do 1º ceb sem formação ou experiência em língua inglesa?
a. Sim, o ideal seria professores do 1º ceb com formação em ensino de línguas aos mais novos. Quantos existem?
3. Onde é que funcionarão as aulas de inglês? Nos halls de entrada das escolas primárias? A grande maioria das escolas deste nível de ensino que conheço tem todas as salas ocupadas, das 8h às 18h.
4. O que acontecerá a alunos de escolas do 1º ceb distintas (sendo que numa havia aulas de inglês e noutra não havia) que passem a frequentar a mesma escola do 2º ciclo? Os alunos que tiveram aulas de inglês durante dois anos voltarão a aprender “My name’s ...” “What’s your name?”
5. Já alguém falou em alterações ao programa de inglês do 2º ciclo?
6. Como serão recrutados os docentes? Será aberto um concurso de docentes – parte II daqui a dias? Será pela cara laroca que mais agradar às autarquias (ou aos autarcas)?
7. O facto de estas aulas surgirem depois das áreas curriculares, não comprometerá a integração da aprendizagem da língua na experiência global de aprendizagem dos alunos? (Claro que se podem e devem sugerir reuniões mensais entre professor titular e professor de inglês a fim de definirem estratégias)?
Mais questões surgirão, certamente, mas estou sem tempo e ainda preciso de ir ali ler melhor A Capital.
Apesar de eu já ter calculado que este seria o modo rápido-não-importa-que-seja-ineficaz-e-condene-à-partida-uma-medida-muito-interessante-e-o-que-é-preciso-é-despachar-isto de resolver o problema do recrutamento de docentes, vê-lo à beira da concretização deixa-me triste, para não entrar em pormenores e impropérios: “no recrutamento do pessoal será dada preferência «a professores do quadro das escolas do agrupamento a que respeita a candidatura sem horário lectivo atribuído ou com horário incompleto», assim como a «professores do quadro de zona pedagógica sem horário lectivo atribuído ou horário incompleto».
Com a quantidade de profissionais competentes e motivados para este trabalho que há a trabalhar neste país há mais de uma década???

Sunday, May 29, 2005

Educação e Sociedade... agora e sempre!

É longa a minha experiência neste sector... mas é igualmente grande o meu desalento...
Acreditar que a Educação, enquanto Instituição pública, regida por uma panóplia de legislação que se diz e contradiz, pode "transformar" a Sociedade é mera ilusão... Sociedade e Escola interagem, mas são mais os valores em vigor na sociedade que "entram" na escola, do que os valores que a escola pretende inculcar a transformar a sociedade.
Cada escola em si mesmo é uma organização social, em que PESSOAS - professores, alunos, pais, contexto social, etc- actuam. Os conflitos sociais - todos, sem excepção- vivem na escola, são sentidos por todos e as PESSOAS agem em função dos seus interesses.
Numa sociedade como a actual, em que valores e conhecimentos se modificam a todo o momento, numa sociedade em que a exclusão continua a predominar de um ou outro modo, que Escola podemos esperar? Uma escola sem esperança, apesar dos muitos profissionais que ainda por lá trabalham... E digo muitos, não todos, já que, como em qualquer valência profissional, temos quem ponha acima dos interesses pessoais os do colectivo.
Só que a escola porque, de frequência obrigatória, é uma instituição frequentada por todos e tem uma visibilidade junto da opinião pública muito maior que outras profissões...
Só poderemos transformar a Escola, transformando a Sociedade e transformar a Sociedade é implicar as Pessoas... sejam elas Pais, Professores, Dirigentes políticos, Governantes...
É uma questão de valores... Foi antes, é agora e será sempre!

Sunday, January 02, 2005

Kofi A. Annan

There is no tool for development more effective than the education of girls.

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