Ainda os crucifixos nas escolas... um episódio
Em Junho deste ano, na sequência da programação de um curso extra-escolar sobre Associativismo e Desenvolvimento Local, estivemos numa aldeia, sede de Junta de Freguesia, a cerca de 50 km de Lisboa, para uma pequena sessão, a que chamámos de Aula Aberta , sobre as vantagens do envolvimento dos habitantes locai no desenvolvimento da sua comunidade.
Ao longo do ano, os formandos do curso e nós, formadoras, realizámos 8 aulas abertas sobre temas relacionados com o desenvolvimento local em parceria com associações de cada localidade, procurando incentivar a dinamização das populações no seu próprio futuro.
Nesta aldeia, a que chamaremos de Arriba de Cima, para que não possa ser identificada, a Associação não possuía uma sede suficientemente espaçosa para o número esperado de assistentes, pelo que a sessão ocorreu na Escola Básica do lugar.
Cerca das 21:30, a sala da escola albergava cerca de 60 pessoas, homens e mulheres de todas idades, dos cerca de 20 aos 76, interessadas e participando animadamente na discussão sobre o tema, após uma breve introdução com o apoio de algumas imagens recolhidas em acções promovidas noutros locais.
A certa altura do debate, um dos assistentes de cerca de 50 anos pediu a palavra para expressar a sua opinião – resumidamente achava que a perspectiva de desenvolvimento era válida e devia efectivamente envolver mais a população, mas sentia-se chocado por ver aquela sala de aula exactamente como estava há trinta e tal anos, quando ele próprio frequentava a escola. Aquele crucifixo não devia estar ali, porque a escola era laica e era proibido.
Confesso que nem tinha reparado no aludido crucifixo, mas nem sequer tive tempo de responder. Gerou-se uma confusão de todo o tamanho, acusando-o de estar ali para gerar problemas e que era melhor calar-se. Os ânimos estavam aquecendo e não foi fácil, muito calmamente, chamar a atenção para o tema daquela sessão, não sem antes ter aproveitado para explicar o que significava escola “laica”, que o referido senhor tinha o direito de emitir a sua opinião, o que dizia a Constituição e que, efectivamente, qualquer pai podia reclamar da presença do crucifixo.
As pessoas presentes, após alguns murmúrios entre si e algumas questões colocadas às formadoras, lá concluíram que talvez o dito senhor tivesse razão, mas ali na aldeia eram eles que decidiam!
Voltámos ao tema do desenvolvimento local, organizámos um grupo que em parceria com a turma iria dinamizar uma sessão de poesia, solicitada por um grupo de pessoas mais idosas e fomos todos para uma festa que decorria ali perto, ao som dos cavaquinhos tocados por 3 habitantes.
Já na festa, em ambiente informal, retomei o assunto do crucifixo com alguns deles e perguntei: “E se a professora tirasse o crucifixo?” “Nós havíamos de o pôr lá outra vez.”
“ Se uma mãe ou pai falasse disso?”
“Aqui ninguém se atreve, e se se atrevesse, dizíamos ao senhor padre!”
O Presidente da Junta de Freguesia perguntou-nos directamente: “O que acham as senhoras?” Eu respondi sorridente: “eu tirava-o, claro, pois não é preciso ter ali um crucifixo para se ser católico!”
“ Não sei se eu podia fazer isso aqui”, retorquiu ele também a sorrir!
Eu também não sei o que aconteceu ao crucifixo lá na escola. Mas um dia destes, hei-de lá voltar para ver!
VSO needs you
-Quando é que este título deixa de ser ficção?-
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8 comments:
Olá.. Claro que pode transcrever e por o link... Bem, sobre condições de trabalho, prometo falar delas num próximo post, certo?
Volte sempre
partilho das vossas opiniões. acho que este post é um bom exemplo daquilo que é a realidade portuguesa, infelizmente...
bom trabalho com o blog!
vou colocar um link no meu (qualqueroutrotempo.blogspot.com)
Infelizmente a realidade é esta, mas não desistimos de a revelar por acharmos que a Educação e a Cultura são o problema chave deste País!
Volte sempre!
Ide... Já trabalhei em África e ainda hei-de falar dessa experiência aqui. Acho que vale a pena!
só por curiosidade: a minha escola é na capital, uma das maiores do país (1º ceb) e a resposta à pergunta de idedumyrox é: sim, temos uma "sala de professores", que para além de ser pequena, é tão agradável que ninguém tem coragem de descalçar luvas ou tirar casacos lá dentro...
DESBLOQUEAR TELELÉS Á BORLIX! Interessado/a? Klica no meu nick.
E que tal a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS em vez dos crucifixos? Hein?!... Essa sim, devia ser OBRIGATÒRIA!!!
Boas Festas.
Concordo plenamente! Boas festas também para si!
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